27/11/2012

Consumo de commodities ameaça animais em países em desenvolvimento

Estudo mostrou que 30% das espécies ameaçadas globalmente é devido ao comércio internacional de produtos como café

Getty%20Images
Macacos-aranha em zoo da Nova Zelândia%3A plantações de café e cacau impactam em seu habitat natural na América Central
Comprar produtos como café, chá e açúcar em países desenvolvidos acelera a degradação do habitat de espécies ameaçadas de extinção em países em desenvolvimento. Esta é a conclusão de um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico científico Nature.
O trabalho relacionou mais de 25 mil espécies que fazem parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) com mais de 15 mil mercadorias produzidas em 187 países e mostrou que o impacto individual de cada país sobre a biodiversidade vai muito além do seu território. “Ficamos muito surpresos com o tamanho do efeito. Muitos de nossos vizinhos (Papua Nova Guiné em relação a Austrália; e Honduras para a América Latina) possuem até 60% de suas espécies ameaçadas devido ao comércio internacional.”, afirmou ao iG Barney Fornan, um dos autores do estudo, da Universidade de Sidney, na Austrália. De modo global, o estudo conclui que esta relação é de 30%, excluídas as espécies invasoras.

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Para chegar a esta conclusão os pesquisadores analisaram as relações entre fatores como produção, venda e consumo; extração de recursos e uso da terra; e mudança de habitats. Um exemplo encontrado foi o do macaco aranha que está perdendo seu habitat por causa da plantação de café e cacau no México e na América Central. A análise mostrou também que Estados Unidos, União Europeia e Japão são os principais destinos das mercadorias que estão relacionadas à perda de biodiversidade.
No caso do Brasil, os números mostram que há 35 espécies relacionadas à produção que são exportadas, para países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Argentina e China. Já a importação brasileira ameaça 76 espécies de fora do país, vindas de Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Bolívia, entre outros. O mapa completo pode ser encontrado em http://worldmrio.com/biodivmap.
O resultado mostra ainda a importância de estudar a perda da biodiversidade – que pode estar levando o planeta à sexta grande extinção de forma global.

Desaparecimento de espécies na Amazônia brasileira ainda está por vir



Estudo aponta que 80% das extinções esperada por causa da perda do habitat dos últimos anos virá até 2050


cortesia de Alexander Lee
Na imagem, área da floresta amazônica sendo queimada para a criação de pastos

Pesquisadores ingleses estimam que até 2050, cinquenta espécies de vertebrados deverão desaparecer dos locais que habitam na Amazônia brasileira. Eles formularam um modelo matemático a partir dos índices históricos de desmatamento e taxas de desparecimento de espécies por perda de habitat e concluíram que mesmo com a queda do desmatamento, há uma antiga conta a ser paga. Os pesquisadores do Imperial College London explicam que a extinção local de espécies de vertebrados tem sido até agora mínima - 1% das espécies em 2008 - mas que o preço da perda de habitat virá nos próximos anos.
“Quando você limpar uma floresta, não mata instantaneamente espécies, como aves. Elas voam para a próxima área de floresta poupada. Mas quando as aves chegam lá, há animais amontoados em um habitat pequeno, então eles têm uma concorrência alta, falta de alimentos e de local para a reprodução. Assim a população entra em declínio lentamente”, explicou ao iG Robert Ewers, do Imperial College London e autor do estudo publicado hoje no periódico científico Science.

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Ewers afirma que este processo chamado de dívida de extinção pode levar décadas para acontecer completamente, mas se nenhuma medida for tomada as espécies desaparecerão. “O desmatamento do passado terá resultado nos próximos anos. Portanto, na Amazônia, mais de 80% das extinções esperadas por causa da perda do habitat histórico ainda está por vir”, disse.

cortesia de Robert Ewers
Preguiça permanece em árvore em área de floresta próxima a fronteira agrícola

Para Ewers, como as extinções não vai acontecer até os próximos anos, há uma “janela de oportunidade” para restaurar habitats e proporcionar espaço suficiente para as espécies viverem. “Quanto mais demorar, é mais provável que extinções aconteçam antes da situação ser revertida”, disse.
Mudança de foco 
Para o ecólogo Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás , mais do que se preocupar em criar unidades de conservação, é preciso focar em regenerar áreas degradadas da Amazônia. Ele afirma que áreas abandonadas pela agricultura e pecuária podem ser regeneradas de forma rápida sendo possível recuperar a biodiversidade. “Desta forma, estaríamos dando um calote nesta dívida de extinção”, disse.
“No Brasil, não temos foco em regeneração de florestas. Focar nisso pode ser mais viável que focar na criação de Unidades de conservação em áreas distantes da fronteira agrícola”, disse.
Para Rangel, mais importante do que os números divulgados no estudo são as áreas onde haverá maior perda e onde precisamos regenerar a vegetação. “A Amazônia ainda é bastante preservada, o que é muito bom. Há também uma queda vertiginosa no desmatamento nos últimos anos. Este estudo é importante para formularmos políticas públicas num momento tão oportuno”, disse.

Taxa de desmatamento da Amazônia diminui 27% em 12 meses





Agência Estado

Imagem aérea mostra devastação em área do norte do Pará. Estado teve reduação de mais de 40% no índice de desmatamento (REUTERS/Paulo Whitaker )
Imagem aérea mostra devastação em área do norte do Pará. Estado teve reduação de mais de 40% no índice de desmatamento

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou nesta terça-feira que a taxa de desmatamento da Amazônia Legal foi 27% menor de agosto de 2011 a julho de 2012 na comparação com os 12 meses anteriores (agosto de 2010 a julho de 2011). Essa foi a menor taxa registrada na série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Mesmo assim, o desmatamento da Amazônia Legal ficou em 4.656 quilômetros quadrados no período. No Pará, a taxa de desmatamento diminuiu em 44%. Houve aumento da taxa em Tocantins (33%), Amazonas (29%) e Acre (10%).

A ministra anunciou que, a partir do próximo ano, a autuação pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento irregular será feita eletronicamente para evitar fraudes.

Governo tem nova tecnologia para fiscalizar

Os níveis de desmatamento na Amazônia Legal devem diminuir ainda mais em 2012/13, por causa das ferramentas que serão utilizadas para fiscalização no próximo ano, como a autuação por meio eletrônico e um novo satélite que permitirá imagens mais detalhadas das florestas. A afirmação é da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "Vamos enxergar mais", disse nesta terça-feira, após o anúncio do lançamento de mais um satélite, pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp.


Izabella informou que o ministério investiu R$ 15 milhões para desenvolver o dispositivo eletrônico que será utilizado em campo pelos fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para computar os dados relativos às autuações. A ministra acredita que o meio eletrônico tornará as informações mais precisas do que nas atuações feitas em papel, o que reduzirá os questionamentos dos escritórios de advocacia para retirar o recolhimento das multas.

A ministra aposta na tecnologia da informação para apertar o cerco contra o desmatamento. Ela afirmou que tanto na elaboração do cadastro ambiental rural (CAR) das propriedades como na emissão de licenças ambientais serão usados códigos de barras, o que permitirá ao governo e ao Ibama maior controle.


Ela disse que, ainda nesta terça-feira, irá assinar uma parceria com as entidades ligadas aos trabalhadores rurais e pequenos produtores, para acelerar o processo de adesão ao cadastro ambiental rural. Na quarta-feira, será firmado acordo com os governos estaduais e, nos próximos dias, com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OC).

Governo comemora reduções

Ao divulgar o balanço do desmatamento relativo ao período de agosto de 2011 a julho de 2012, a ministra comemorou o fato de a taxa ter ficado abaixo dos 5 mil km2. Segundo ela, com o desempenho registrado entre 2011/12, quando foi registrado desmatamento de 4.656 km2, o Brasil atingiu 76,2% dos 80% do desmatamento que se comprometeu a reduzir na Amazônia até 2020. A meta é redução do desmatamento para 3.925 km2. Ela lembra que o compromisso voluntário assumido pelo governo brasileiro é de redução entre 31,6% e 38,9% das emissões projetadas de gases de efeito estufa até 2020, segundo a Política Nacional sobre Mudança do Clima.

A ministra destacou a expressiva redução de 44% no de desmatamento registrado no Pará, que ficou em 1.699 km2, que mesmo assim ainda é a maior área de desmate no País. Izabella Teixeira demonstrou preocupação com crescimento de 33% em Tocantins, de 29% no Amazonas e de 10% no Acre. Ela disse que as informações sobre as causas do desmatamento serão debatidas com os governos estaduais.

Em Mato Grosso, onde o aumento do desmatamento no ano passado levou o governo federal a criar um "gabinete de crise", houve queda de 12% na taxa registrada de agosto do ano passado a julho deste ano em relação a igual período entre 2010 e 2011, para 761 km2. Na entrevista à imprensa, a ministra lembrou que o governo de Mato Grosso se comprometeu, mas ainda não regulamentou a proibição ao uso de "correntões" na derrubada de florestas, como foi constatado pela fiscalização.

Autos de infração
O balanço do Ibama relativo aos autos de infração lavrados na Amazônia Legal entre agosto do ano passado a julho deste ano mostra que foram feitas 3.356 autuações, no valor de R$ 1,611 bilhão. No Pará, foram lavrados 857 autos, no valor de R$ 941,3 milhões. Em seguida, ficou Mato Grosso, com 830 autos e valor de R$ 339 milhões. Em Roraima, foram 581 autos e valor de R$ 121,4 milhões. Nas autuações, o Ibama apreendeu 329 caminhões, 95 tratores e 143 outros veículos, além de 111 motosserras.